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 A Trindade





Os Três em Um, o Um em Três? Não de todo! Para o meu próprio Deus eu vou. Pode ser que Ele me dê maior tranquilidade Do que o vosso frio Cristo e Trindades emaranhadas.





- Capitulação Monoteísta de Rudyard “Lispeth” Kipling





A Trindade: o fundamento de fé para alguns, o foco do ridículo para outros, mas um mistério para todos. E isso não deveria ser nenhuma surpresa. Para citar as autoridades: “A palavra não ocorre nas Escrituras...”


 e, “A doutrina da  Trindade, como tal, não é revelada nem no AT ou no NT...” Então, de onde é que ela veio? Talvez seja mais fácil responder de onde ela não veio


 – ela não veio de Jesus ou dos seus companheiros, pois os “judeus do tempo de Jesus não tinham conhecimento de nenhum Deus trino. Tal conceito teria sido uma inovação radical, chocante, e até blasfema.”  Hmm. Voltando ao assunto de onde ela veio...


A palavra trias grega para “tríade” foi “uma palavra





usada, pela primeira vez, para a Trindade na Divindade por Teófilo de Antioquia, que nomeia como a Tríade „Deus e a Sua Palavra e a Sua Sabedoria‟.”  Isto, no mínimo, é uma tríade que faz algum sentido quando uma pessoa aceita que as palavras de Deus são uma expressão da Sua sabedoria. O porquê de Teófilo se ter sentido obrigado a separar Deus dos Seus atributos é uma questão separada e geralmente irrelevante. A história indica que a palavra latina trinitas foi proposta pela primeira vez em 220 EC por Tertuliano, escritor do século III e apologista cristão primitivo de Cartago, que teorizou a co-partilha da divindade entre Deus, Jesus e o Espírito Santo. O fato de que Tertuliano era um advogado faz cócegas à fantasia de quem já reparou que palavras incompreensíveis e discurso duplo originam frequentemente de advogados e políticos (muitos dos quais são advogados de qualquer maneira, mas com a exigência política adicional de falta até mesmo de ética mínima da profissão jurídica). Uma pessoa perguntar-se-ia sobre o que estava na clausula miúda de Tertuliano, e em que provas ele baseou a sua teoria. O que gerou a teoria que, de alguma forma, escapou das mentes dos escritores do evangelho, dos discípulos, e até mesmo o próprio Jesus? Uma pessoa não deve esperar encontrar referência bíblica definitiva, pois, “em todo o Novo Testamento,





considerando que existe a crença em Deus, no Pai, em Jesus, no Filho e no Espírito Santo de Deus, não há nenhuma doutrina de um só Deus em três pessoas (modos de ser), nenhuma doutrina de um „Deus tri-uno‟, uma „trindade‟.”  Dizendo sem rodeios, “A doutrina formal da Trindade, como definida pelos grandes concílios da Igreja dos séculos IV e V não é encontrada no NT.”  O melhor que podemos esperar, então, são passagens que parecem sugerir a Trindade, senão em nome, em conceito.  (NE) Mesmo assim, temos de esperar ficar frustrados, porque, “A fórmula trinitária foi moldada numa complexa, por vezes contraditória e, certamente, cansativa cadeia de pensamento.”  E isto é precisamente o que nós encontramos. As doutrinas formais da Trindade e filiação divina ambas surgiram do Conselho de Niceia e foram incorporadas no Credo Niceno


– “Uma profissão de fé acordada, embora com algumas dúvidas por causa da sua terminologia nãobíblica, entre os bispos em Niceia I (325 EC) para defender a verdadeira fé contra o Arianismo.” (itálico meu).  Agora, pare. Rebobine, e reproduza novamente. Os bispos de Niceia derivaram a doutrina da Trindade baseando-se em terminologia não-bíblica, pronunciaram a fé deles de “verdadeira” e, em seguida, rotularam Ário, cujas doutrinas





unitárias foram retiradas da Bíblia, um herege? Normalmente, numa discussão religiosa, prefere-se evitar o termo “estupidez absurda”, mas neste caso... Aham. Onde estava eu?


 Ah sim... Então, imagine os pais da igreja, cerca de trezentos anos após o ministério de Jesus, sendo-lhes entregue a Trindade


– a invenção mística que eles simplesmente não poderiam reconhecer como o fruto doutrinal concebido através dos ensinamentos de Jesus. Como é que a Igreja lidou com os bispos dissidentes?


Ela exilou-os, juntamente com Ário, depois do qual nenhum outro se atreveu a negar a doutrina.  Só depois de superar Ário e outros unitários proeminentes é que a Trindade e o Credo Niceno foram formalmente ratificados pelo Conselho de Constantinopla em 381 EC.  Hmm. O Conselho de Niceia em 325, e depois o Conselho de Constantinopla em 381. Quantos anos separam os dois?


Vamos ver, isso é oitenta e um menos vinte e cinco... tomando um dos oito, subtraindo cinco de onze, deixando sete menos dois na coluna de dezenas...


Fico com cinquenta e seis anos. Agora, isso pode não parecer muito no espaço da história humana, mas que é muuuito, muito tempo para uma Igreja decidir, isso é. Tempo suficiente para a maioria, senão para todos, dos membros do conselho original ter morrido. Em





comparação, a maioria dos estudiosos bíblicos concordam que a missão de Jesus foi quanto tempo – três anos? Então, por que é que demorou cinquenta e seis anos para a Igreja finalizar a doutrina trinitária?


Não levou esse tempo. Não era tanto uma questão de tempo que a Igreja necessitava para finalizar, mas uma questão de precisar de pessoas para finalizar...


 o seu termo de vida, isto é. O que aconteceu é o seguinte: Durante o reinado do Imperador Constantino, o Império Romano foi enfraquecido por lutas internas religiosas, enquanto fazia guerras ao mesmo tempo em várias frentes. Como resultado, Constantino procurou reforçar o Império Romano internamente, unindo o seu reino sob uma fé cristã. Para este propósito, “O Imperador não só convocou o Conselho [de Niceia] e assumiu controlo sobre o seu procedimento, mas ele também exerceu uma influência considerável sobre as suas decisões. Ele ainda não era um membro oficial da Igreja, pois ele não recebeu o batismo até estar no seu leito de morte, mas na prática ele agiu como se fosse a autoridade da Igreja, e com isso estabeleceu um precedente que foi seguido pelos seus sucessores  E isso é, afinal, o que cada Igreja quer, não é bizantinos.


” (tosse, tosse)


– um político que não só é ignorante na fé, mas nem é totalmente um membro, assumindo “controlo sobre o seu procedimento” e exercendo “uma influência considerável sobre as suas decisões”? Como resultado, “Controvérsia sobre a doutrina deixou de ser uma preocupação particular da Igreja, mas foi afetada por necessidades políticas e tornou-se um elemento importante na política, bem como na vida eclesiástica. Além disso, os interesses seculares e eclesiásticos estavam longe de ser sempre idênticos, e cooperação entre as duas autoridades foi muitas vezes substituída por conflito. Tudo isto era óbvio, mesmo nos dias de Constantino, que viu a intervenção do Estado nas disputas da Igreja.”  Ah. E pensar que algumas pessoas endossam a separação de igreja e estado (quem sejam essas pessoas, elas certamente não são imperadores romanos). Mas o ponto é que não importa o quanto Constantino tentou, ele nunca resolveu a controvérsia unitária-trinitária. Na verdade, ele até falhou em unir os seus filhos sobre o assunto. Após a sua morte, um filho, Constâncio, “governou a metade oriental [do Império Romano] e declarou o seu Arianismo”, enquanto o outro filho, Constanço, “controlou o Ocidente e reconheceu o Credo Niceno.”  Os dois irmãos convocaram o Conselho de Sárdica em 343 para conciliar estes dois pontos de vista, mas falharam. Constanço era o mais poderoso, e assim estabeleceu os





bispos trinitários “ortodoxos” na sua autoridade, apesar das objeções de Constâncio. No entanto, Constanço morreu primeiro, após o qual Constâncio reverteu a política do seu irmão e proclamou o Arianismo como a religião do reino com os sínodos de Sírmio e Rimini em 359.


O imperador romano seguinte, Juliano (361-363), tentou ressuscitar os cultos pagãos, que ainda eram poderosos, tanto em números como riqueza. Ele foi substituído em pouco tempo pelo Imperador Joviano (363-64), um cristão, que foi substituído em tempo ainda mais curto pelos filhos, Valentiniano (364-75) e Valenso (364-78). Isso traz-nos de volta a um reino dividido, pois como os filhos de Constantino, Valentiniano governou o Império Romano do Ocidente e reconheceu o Credo Niceno, enquanto que Valenso governou o Oriente como um ariano. O seu sucessor, Teodósio o Grande (375-83), pôs fim a isso tudo. O Imperador Teodósio escreveu uma série de decretos que estabeleceram o Cristianismo Trinitário como a única religião aprovada do Império Romano. O Conselho de Constantinopla afirmou o Credo Niceno e estabeleceu o Cristianismo Trinitário como ortodoxo. “Foi durante o seu [Teodósio] reinado que o Cristianismo se tornou a religião do Estado, assim ganhando uma posição de monopólio, enquanto que a outras religiões e crenças foi negado o direito de





existência.”  Então o que aconteceu entre o Conselho de Niceia em 325 e o Conselho de Constantinopla em 381? Muito. O Credo Niceno foi escrito sob Constantino, o reino foi dividido entre o Arianismo e o Cristianismo Trinitário sob os filhos de Constantino, confirmado pelo Arianismo por dois sínodos sob Constâncio, revertido ao paganismo sob Juliano, restaurado ao Cristianismo sob Joviano, dividido mais uma vez entre o Arianismo e o Trinitarismo sob Valentiniano e Valenso, e, em seguida, confirmado pelo Trinitarismo durante o reinado de Teodósio. O Credo Niceno foi posteriormente feito como autoridade pelo Conselho da Calcedónia em 451. O resto, infelizmente, é história.


O processo de derivação da fórmula trinitária era tão atrasado, complicado e questionável que, “É difícil, na segunda metade do século XX, oferecer um relato claro, objetivo e direto da revelação, evolução doutrinária, e elaboração teológica do mistério da Santíssima Trindade. Discussão trinitária, Católica Romana, bem como outras, apresenta uma silhueta um tanto instável.”  “Instável”, de fato: “A fórmula em si não reflete a consciência imediata do período de origens; foi o produto de 3 séculos de desenvolvimento doutrinário...


É este retorno





contemporâneo para as fontes que é o responsável final pela silhueta instável”


(itálico meu).  Noutras palavras, do ponto de vista da Igreja, o problema é que os leigos instruídos estão a começar a confiar na escritura mais do que nas mentes imaginativas e fontes nãobíblicas das quais a Igreja derivou o seu dogma. Conseguimos entender a sua preocupação. Afinal, é muito mais fácil dizer às pessoas o que devem acreditar


(e quanto dar para o dízimo) do que ter de lidar com as questões problemáticas que resultam da análise objetiva. Questões como, como, como...


 bem, como estas. Em qualquer caso, como se a citação acima não bastasse, a NEC continua:





A fórmula de “um Deus em três Pessoas” não estabelecida, foi solidamente e certamente não plenamente assimilada na vida cristã e na sua profissão de fé, antes do final do século IV. Mas é precisamente esta fórmula que tem a primeira reivindicação ao título do dogma trinitário.  Entre os Padres Apostólicos, não





havia nada que se aproximasse, nem mesmo de forma remota, a tal mentalidade ou perspetiva.  Ok, vamos todos sentar, coçar as nossas cabeças, e dizer um coletivo “Hã?


” A Igreja admite que a Trindade era desconhecida aos Padres Apostólicos,  e que a doutrina foi derivada de fontes não-bíblicas, mas insiste que acreditemos mesmo assim?


Não é de admirar que demorou tanto tempo para a moda pegar. Uma vez aprovado pelos conselhos da Igreja, outros vários séculos passaram antes de este conceito estranho ganhar aceitação. A Nova Enciclopédia Católica observa que a devoção à Trindade não foi realizada até ao século VIII, altura em que começou a tomar posse em mosteiros em Aniane e Tours.  No meio da crescente consciência das diferenças entre a doutrina trinitária e o período de origens, pode-se ficar surpreso ao encontrar um grupo que reivindique ser seguidor de Jesus Cristo


(ou seja, os muçulmanos!) lendo o seguinte no seu livro de orientação


 (isto é, o Alcorão): Ó seguidores do Livro! Não vos excedais na vossa religião, e não





digais acerca de Allah senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria não é senão o Mensageiro de Allah e o Seu Verbo, que Ele lançou a Maria, e espírito vindo d‟Ele. Então, crede em Allah e nos Seus Mensageiros, e não digais: “Trindade”. Abstende-vos de dizê-lo: é-vos melhor. Apenas, Allah é Deus Único. Glorificado seja! Como teria Ele um filho?! D‟Ele é o que há nos céus e o que há na terra. E basta Allah por Patrono!


(OSA 4:171)





E um alerta:





Ó seguidores do Livro! Não vos excedais, inveridicamente, na vossa religião, e não sigais as paixões de um povo que, com efeito, se descaminhou, antes, e descaminhou a muitos, e se tem descaminhado do caminho certo.


(OSA 5:77)





Pode-se perguntar o que é que, do Novo Testamento, separa estes dois grupos por uma tão vasta extensão de entendimento. Trinitários, unitários e muçulmanos todos alegam seguir os ensinamentos de Jesus. Mas quem realmente o faz, e quem não o faz? Durante séculos, o argumento tem sido lançado de que os trinitários seguem a teologia paulina em preferência à de Jesus. Esta acusação é difícil de negar, pois Jesus ensinou a Lei do Antigo Testamento enquanto que Paulo a negou. Jesus pregou o credo ortodoxo judaico; Paulo pregou mistérios da fé. Jesus falou da prestação de contas; Paulo propôs a justificação pela fé. Jesus descreveu a si mesmo como um profeta étnico; Paulo definiu-o como um profeta universal.


 (NE) Em desrespeito a milhares de anos de revelação transmitida através de uma longa cadeia de profetas estimados, e contrário aos ensinamentos do rabino Jesus, Paulo não se focou na vida e nos ensinamentos de Jesus, mas sim na sua morte. Como Lehmann escreve, “A única coisa que Paulo considera importante é a morte do Jesus judeu, que destruiu todas as esperanças quanto à libertação através de um Messias. Ele faz de um Cristo vitorioso um Messias judeu que fracassou, os vivos dos mortos, o filho de Deus do filho do homem.”  Mais do que alguns estudiosos consideram Paulo como o principal corruptor do Cristianismo Apostólico e dos





ensinamentos de Jesus, e eles não estão sozinhos. Muitas das primeiras seitas cristãs também tinham este ponto de vista, incluindo a seita cristã do século II conhecida como Adocionismo. De acordo com Bart D. Ehrman, “Em particular, [os adocionistas] consideravam Paulo, um dos autores mais importantes do nosso Novo Testamento, como um arcoherege, em vez de um apóstolo.”  Talvez a contribuição mais conclusiva para este argumento seja encontrada nos Manuscritos do Mar Morto, que muitos estudiosos acreditam que condenem Paulo pelo seu abandono da Lei do Antigo Testamento e pela sua rebelião contra os ensinamentos de Jesus e da liderança cristã primitiva. O final do Documento de Damasco, em particular, parece documentar a maldição da comunidade cristã primitiva e a excomunhão de Paulo.  Eisenman informa-nos que os ebionitas – os descendentes da Comunidade Cristã de Santiago em Jerusalém – consideravam Paulo “um apóstata da Lei.”  Sobre os ebionitas, ele escreve:





Eles são certamente a comunidade que manteve a memória de Santiago na mais alta consideração, enquanto que Paulo era considerado como “o





Inimigo” ou Anticristo... Tal postura está em paralelo às passagens cruciais da carta em nome de Santiago no Novo Testamento. Já mostramos que esta carta, em resposta a algum adversário que acreditava que Abraão foi justificado somente pela fé, afirma que, fazendo-se “um amigo do homem”, este adversário tornou-se “num inimigo de Deus”. A terminologia de “Inimigo” é também conhecida em


Mateus 13:25-40


 na “parábola do joio”, talvez a única parábola anti-paulina nos Evangelhos, onde um “Inimigo” semeia o “joio” entre a boa semente. Na “colheita” estes serão arrancados e atirados para “a queima”.





Johannes Lehmann escreve: “O que Paulo proclamava como „Cristianismo‟ era pura heresia que não poderia ser baseada nas fés judaica ou essénia, ou no ensino do rabino Jesus. Mas, como diz Schonfield, „A heresia paulina tornou-se a base da ortodoxia cristã e a Igreja legítima foi repudiada





como sendo herética‟.” Ele continua: “Paulo fez algo que o rabino Jesus nunca fez e recusou-se a fazer. Ele estendeu a promessa de Deus de salvação aos gentios; ele aboliu a lei de Moisés, e ele impediu o acesso direto a Deus através da introdução de um intermediário.”  Bart D. Ehrman, autor de O Novo Testamento: Uma introdução histórica aos Primeiros Escritos Cristãos e talvez a voz contemporânea mais autorizada lembra-nos de que “a visão de Paulo não foi universalmente aceite ou, pode-se argumentar, até mesmo amplamente aceite” e que haviam líderes cristãos proeminentes, incluindo o discípulo de Jesus mais próximo, Pedro, “que discordavam veementemente dele a este respeito e consideravam as opiniões de Paulo como uma corrupção da verdadeira mensagem de Cristo.” Comentando sobre os pontos de vista de alguns dos primeiros cristãos na literatura pseudo-clementina, Ehrman escreve, “Pedro, não Paulo, é a verdadeira autoridade para a compreensão da mensagem de Jesus. Paulo corrompeu a verdadeira fé com base numa breve visão, que ele, sem dúvida, interpretou mal. Paulo é, assim, o inimigo dos apóstolos, e não o chefe deles. Ele está fora da verdadeira fé, um herege a ser banido, não um apóstolo a ser seguido.”  Outros elevam Paulo ao nível de santidade. Joel


Carmichael claramente não é um deles:





Nós estamos a um universo longe de Jesus. Se Jesus veio “só para cumprir” a Lei e os Profetas; Se ele pensava que nem “um só i ou um só til” passaria da Lei, que o mandamento cardeal era “Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor”, e que “Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus!”...


 O que ele teria pensado da obra de Paulo! O triunfo de Paulo significou a obliteração final do Jesus histórico; ele vem até nós embalsamado no Cristianismo como uma mosca em âmbar.





Enquanto muitos autores apontaram para a disparidade nos ensinamentos de Paulo e Jesus, o melhor deles evitou comentário opinativo e concentrou-se simplesmente na exposição de diferenças. Dr. Wrede comenta,


Em Paulo, o ponto central é um ato





 está na história, mas divino, transcendea história, ou um complexo de tais atos, que conferem a toda a humanidade a salvação pronta. Quem crê em tais atos divinos


– a encarnação, a morte e a ressurreição de um ser celestial, recebe a salvação. E isto, que para Paulo é a soma da religião


– o esqueleto do tecido da sua piedade, sem o qual entraria em colapso – pode isto ser uma continuação ou uma reformação do evangelho de Jesus?


 Onde é que, no meio disto tudo, está o evangelho, que Paulo disse ter entendido?  Daquilo que para Paulo é tudo, quanto disso Jesus sabe? Nada de todo. E o Dr. Johannes Weiss contribui, “Assim, a fé em Cristo como mantida pelas igrejas primitivas e por Paulo era algo novo em comparação com a pregação de Jesus; era um novo tipo de religião.”  Baigent e Leigh resumiram ordenadamente a situação


da seguinte forma





Em todas as vicissitudes que se seguem, deve sublinhar-se que Paulo é, por certo, o primeiro herege “cristão”, e que os seus ensinamentos – que se tornam mais tarde a base do Cristianismo – são um desvio flagrante da “original” ou “pura” forma exaltada pela liderança... Eisenman demonstrou que Santiago emerge como o guardião do corpo original de ensinamentos, o expoente da pureza doutrinal e rigorosa adesão à Lei. A última coisa que ele teria tido em mente era fundar uma “nova religião”. Paulo está a fazer exatamente isso...


 À medida que as coisas transpareciam, no entanto, a maioria do novo movimento gradualmente se unira, durante os próximos três séculos, em torno de Paulo e dos seus ensinamentos. Assim, para o horror póstumo





indubitável de Santiago e dos seus associados, uma religião inteiramente nova, de fato, nasceu


– uma religião que tem tido cada vez menos a ver com o seu suposto fundador.





Que teologia ganhou o dia – porquê e como – é uma questão melhor deixada para as análises dos autores acima. Se reconhecermos que os ensinamentos de Paulo e de Jesus se contradizem, somos forçados a tomar partido. Michael Hart teve o seguinte a dizer no seu tomo escolar, Os 100, um Ranking das Pessoas Mais Influentes da História: “Embora Jesus tenha sido responsável pelos principais preceitos éticos e morais do Cristianismo (na medida em que diferiam do Judaísmo), São Paulo foi o principal desenvolvedor da teologia cristã, o seu principal proselitista, e autor de uma grande parte do Novo Testamento.”


 “Uma grande parte” do Novo Testamento?


Dos 27 livros e epístolas, Paulo escreveu14 – mais do que metade. Isso representa um braço amplo de momento literário para alancavar a sua teologia até ao topo. Em relação à perspetiva de Paulo, “Ele não pergunta o que levou à morte de Jesus, ele só vê o que ela significa para ele pessoalmente. Ele torna um homem, que convocou as pessoas à reconciliação com Deus,





num salvador. Ele transforma um movimento judaico ortodoxo numa religião universal que finalmente entrou em confronto com o Judaísmo.”  Na verdade, os ensinamentos de Paulo dividiram o Cristianismo Trinitário do tronco do monoteísmo revelado. Enquanto que os ensinamentos monoteístas transmitidos por Moisés, Jesus e Muhammad estão todos alinhados na suave continuidade, os ensinamentos de Paulo estão claramente fora do normal. Para começar, Jesus ensinou a unicidade de Deus: “Esclareceu Jesus: „O mais importante de todos os mandamentos é este: „Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus é o único Senhor. Amarás, portanto, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.‟‟”


 (Marcos 12:29-30). Não só Jesus deu ênfase à importância imprensando as suas palavras entre as repetidas frases “O mais importante de todos os mandamentos é este”, mas a importância deste ensinamento é igualmente sublinhada em Mateus 22:37


 e Lucas 10:27. Reconhecendo a continuidade do Judaísmo, Jesus manifestou o seu ensino do Deuteronómio 6:4-5 (tal como foi reconhecido em todos os comentários bíblicos de renome). Hans Küng contribui, “Como um judeu piedoso, o próprio Jesus pregou um estrito monoteísmo. Ele nunca





chamou a si mesmo de Deus, pelo contrário: „Por que me chamas bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus!‟ [Marcos 10:18]... Não há nenhuma indicação no Novo Testamento de que Jesus se entendeu como a segunda pessoa em Deus e como estando presente na criação do mundo. No Novo Testamento, o Próprio Deus (ho theos‟, „o Deus‟, „Deus‟) é sempre o único Deus e Pai – não o Filho.”  E, no entanto, a teologia paulina de alguma forma chegou à Trindade. Mas como?


Jesus referiu-se ao Antigo Testamento. Os teólogos paulinos referiram-se a quê? Significativamente ausente do ensinamento de Jesus está a associação de si mesmo com Deus. Nunca houve melhor tempo ou lugar, em todo o Novo Testamento, para Jesus ter reivindicado parceria na divindade, se fosse verdade. Mas ele não o fez. Ele não disse: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um – mas não é tão simples assim, então deixemme explicar...” Para recapitular as questões relevantes nesta discussão:





1. A fórmula trinitária foi concebida no século III e codificada no séc. IV, distante em termos de tempo e teologia do período da revelação.





2. A fórmula trinitária era completamente desconhecida pelos Padres Apostólicos.





3. A Trindade não é encontrada no Antigo ou no Novo Testamento, seja em nome ou em conceito.





4. A “conquista” da teologia paulina – a fórmula trinitária – foi concebida por homens, contando com os misticismos de Paulo, e está em conflito direto com o estrito monoteísmo transmitido tanto no Antigo Testamento como nos ensinamentos de Jesus Cristo.





Assim, com todas estas evidências contra a Trindade, qual é a evidência a favor dela?  Depende de quem se questione. Os leigos cristãos gostam de citar a Cláusula Joanina (Primeira Epístola de João,versículos 5:7-8), embora nenhum verdadeiro estudioso bíblico o faria. E há uma boa razão para não o fazer. Os versículos dizem, “Assim, há três que proclamam testemunho: o Espírito, a água e o sangue, e há plena concordância entre os três”. Um problema – a frase “o Espírito, a água e o sangue, e há plena concordância entre os três” tem sido há algum tempo reconhecida como uma interpolação


(uma inserção enganosa).





AInterpreter's Bible(


Bíblia do Interpretador) comenta:





Este versículo na VKJ deve ser





rejeitado (com VPR). Ele não aparece em nenhum manuscrito grego antigo nem é citado por qualquer padre grego; de todas as versões, somente a de latim o continha, e mesmo esta não existia em nenhuma das suas fontes mais antigas. Os mais antigos manuscritos da Vulgata não o têm. Como Dodd (Epístolas Joaninas, p. 127n) nos lembra: “Este é citado pela primeira vez como parte de 1 João por Prisciliano, o herege espanhol, que morreu em 385, e gradualmente fez o seu caminho em manuscritos da Vulgata em latim, até que ser aceite como parte do texto em latim autorizado.”





O Dr. C.J. Scofield, D.D., apoiado por outros oito Doutorados da Divindade, afirma o mencionado acima ainda mais claramente na sua nota de rodapé deste versículo: “É geralmente aceite que este versículo não tem autoridade de manuscrito e que foi inserido.”


 “Geralmente aceite”? Nas palavras dos Professores Kurt e Barbara Aland, “Um olhar sobre os dados no aparelho





crítico de Nestle-Aland (que é exaustivo para esta passagem) deve fazer qualquer comentário adicional desnecessário para demonstrar a natureza secundária desta adição e a impossibilidade de esta ser de todo relacionada com a forma original do texto de


 1 João.”  O Professor Metzger, que também atribui esta passagem quer a Prisciliano ou ao seu seguidor, o Bispo Instantius, afirma: “Que estas palavras são falsas e não têm o direito de estar no Novo Testamento é absoluto...”  Noutro trabalho, ele acrescenta, “Estudiosos católicos romanos modernos, no entanto, reconhecem que as palavras não pertencem ao Testamento grego...”  Como é que, então,


1 João 5:7 invadiu a Escritura? Este não é nenhum mistério para estudantes de divindade. Parece ter sido originalmente escrito na margem da escritura por um copiador de manuscrito mais recente. Aqueles que buscaram apoio para a ideologia trinitária transportaram a nota marginal para o texto e incorporaram-na na Antiga Bíblia em Latim em algum momento durante o século V.  Desta forma, eles adotaram o versículo, não porque era válido, mas porque era útil. Nas palavras de E. Gibbon:





O texto memorável, que afirma a unidade dos Três que dão testemunho





 no céu, é condenado pelo silêncio universal dos padres ortodoxos, versões antigas autênticos... e manuscritos Uma interpretação alegórica, na forma, talvez, de uma nota marginal, invadiu o texto das Bíblias em latim, que foram renovadas e corrigidas num período negro de dez séculos. Após a invenção da imprensa, os editores do Testamento Grego cederam aos seus próprios preconceitos, ou aos da época, e à fraude piedosa, que foi abraçada com igual zelo em Roma e em Genebra, infinitamente multiplicada em cada país e em todas as línguas da Europa moderna.





Ehrman, em Citando Jesus Erradamente, expõe brilhantemente como estes versículos se infiltraram na Grécia sob a forma de uma falsificação do século XVI. Tudo isso explica o porquê de os leigos amarem


1 João 5:7, e os estudiosos não. Embora as versões King James e Douay-Rheims Católica retenham o versículo, estudiosos sem a menor





cerimónia expurgaram 1 João 5:7 de traduções mais modernas e conceituadas, que incluem a Versão Padrão Revisada de 1952 e 1971, a Nova Versão Padrão Revisada de 1989, a Nova Bíblia Padrão Americana, a Nova Versão Internacional, a Bíblia das Boas-Novas, A Nova Bíblia Inglesa, A Bíblia de Jerusalém, a Tradução Nova de Darby, e outras. O mais impressionante, no entanto, não é o número de traduções que removeram este versículo, mas o número das que o mantiveram apesar da sua falta de autoridade de manuscrito. O que devemos concluir – que tal devoção é para a verdade, ou para a convenção doutrinária? A Nova Versão de King James, aparentemente relutante em corrigir a versão 1611 em risco de perder o público pagante, parece enquadrar-se na categoria de convenção doutrinária. Até mesmo a Nova Bíblia de Referência Scofield mantém o versículo. E aqui está um excelente exemplo de falta de sinceridade na tradução da Bíblia. A Bíblia de Referência Scofield é feita para atender às necessidades dos académicos e estudantes de divindade, e, como tal, reconhece a ilegitimidade de


1 João 5:7 através da nota de rodapé acima transcrita. A Bíblia de Estudo de Scofield, no entanto, é feita para o olho menos crítico de leigos cristãos, e mantém o versículo sem sequer insinuar a sua ilegitimidade. Verdade na tradução, ao que parece, é ajustada de acordo com o público.





Então, o que é que estudiosos citam como prova bíblica para a Trindade?


Muito pouco. A Nova Enciclopédia Católica menciona, “Nos Evangelhos, evidência para a Trindade é encontrada explicitamente só na fórmula batismal de Mt. 28:19.”  E o que é a fórmula batismal de Mateus 28:19


? Neste versículo, Jesus supostamente ordenou os seus discípulos: “Portanto, ide e fazei com que todos os povos da terra se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Sendo este o único versículo do evangelho que menciona explicitamente o Pai, Filho e Espírito Santo juntos,  não devemos ficar surpresos ao descobrir que ecoou nos ensinamentos de Paulo – “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!”


(2 Coríntios 13:14). No entanto, podemos repetir este benzimento mil vezes, e um abismo ainda permanecerá entre Mateus 28:19 e a parede inflexível da doutrina trinitária – um abismo que exige um salto de fé sem a proteção de uma rede de evidências sólidas. Ninguém lê, “Leões, tigres e ursos, ah!”, e imagina uma besta trina. Por que é que, então, somos convidados a ler o benzimento acima e a imaginar um Deus trino? Marcos 16:15-16 relata exatamente a mesma “Grande Comissão”, como o faz Mateus 28:19, e ainda assim, a fórmula





“Pai, Filho e Espírito Santo” está conspicuamente ausente. Porquê? Ambos os evangelhos descrevem o último mandamento de Jesus aos seus discípulos, mas enquanto os teólogos trinitários distorceram Mateus 28:19 (mais uma vez, o único versículo do evangelho que menciona explicitamente o Pai, Filho e Espírito Santo juntos) a seu serviço, Marcos 16:15-16 não fornece tal apoio. Então, qual autor do evangelho entendeu bem, qual entendeu mal, e como é que podemos decidir? Uma maneira de decidir qual destas duas passagens está correta é examinar o que os discípulos de Jesus realmente fizeram. As cartas de Paulo revelam que o batismo na Igreja primitiva só era feito em nome de Jesus (exemplos incluem Atos 2:38, 8:16, 10:48, 19:5, e Romanos 6:3), e não “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Assumindo que os discípulos, na verdade, fizeram o que lhes foi dito, as suas ações endossam Marcos 16:15-16 e condenam tanto Mateus 28:19 como 2 Coríntios 13:14. Por outro lado, se os discípulosnão fizeram como lhes foi dito, então não temos nenhuma razão para confiar em qualquer coisa que registrada que eles tenham dito ou feito. E se os discípulos não devem ser confiados, quão menos confiável deve ser Paulo, que nunca sequer conheceu Jesus? Há um problema óbvio ainda maior neste argumento





trinitário frágil, e a maioria dos teólogos preferem não discutir sobre o assunto. O problema é este: Embora a Bíblia atribua a “Grande Comissão” em Marcos 16:15-16 e Mateus 28:19 a Jesus Cristo, os duzentos estudiosos do Seminário de Jesus opinam que ele não disse nenhuma das duas versões.  Então, como podemos razoavelmente considerar qualquer um destes versículos como prova para a Trindade? Quando as justificações acima falham, clérigos e leigos recorrem a citações de uma litania de versos, cada um dos quais pode ser sumariamente refutado. Por exemplo, João 10:38 diz, “o Pai está em mim, e Eu estou no Pai.” João 14:11 diz praticamente o mesmo. Mas o que é que isto significa? Se propomos que estes versículos apoiam a co-partilha da divindade, nós temos de levar João 14:20 para a equação, onde se lê, “E naquele dia, entendereis (isto é, os discípulos) que Eu estou no meu Pai, e vós, em mim, e Eu, em vós.” Tendo em mente que o aramaico e hebraico possuem uma capacidade muito maior para a metáfora do que o português, a única conclusão lógica é que a linguagem é figurativa. Por isso nenhuma das citações acima pode ser usada para defender a doutrina trinitária. A única outra opção seria blasfema – que o Conselho de Niceia falhou em reconhecer uma dúzia de discípulos como parceiros tanto de Jesus como de Deus. Infinitamente mais razoável é admitir que coloquialismos de





dois mil anos de idade são exatamente isso – frases floridas que, se interpretadas literalmente, distorcem a realidade. O antigo português de sete séculos atrás é incompreensível para todos, exceto estudiosos. O que, então, fazer de traduções gregas do hebraico e aramaico antigos com 1.600 anos de idade, muito menos os seus coloquialismos? Vejamos outro alegado elemento de prova. João 14:9 relata Jesus como tendo dito, “Aquele que vê a mim, vê o Pai”. Assumindo que a linguagem seja literal, que é uma suposição ousada, ainda temos de corrigir João 14:9 com João 5:37, onde se lê: “Jamais ouvistes a Sua voz, nem contemplastes a Sua face”. João 1:18 é ainda mais enfático, afirmando: “Ninguém jamais viu a Deus”. Desconsiderando o nosso amigo de “sem final de vida”, Melquisedeque, em Hebreus 7:3, Paulo aparentemente concordou;“[Deus] o único que é imortal e habita em luz inacessível a quem ninguém viu, nem pode ver.” (1 Timóteo 6:16). As descrições de “inacessível” e “ninguém viu, nem pode ver” certamente não se conformam com a pessoa acessível e visível de Jesus. O argumento de João 14:9, quando usado, revela-se inválido. O passo das escrituras para a frente desliza três passos para trás quando se descobre que Jesus estava corporal à frente dos olhos dos seus discípulos ao informá-los, “Jamais ouvistes a Sua voz, nem contemplastes a Sua face”.





Quando tudo falha, João 10:30 relata Jesus como tendo dito, “Eu e o Pai somos um”. Curto, sucinto, direto ao ponto, e terrivelmente falho. Neste versículo, o manuscrito grego para o “um” português é heis.  Esta palavra também ocorre em João 17:11 e 17:21-23.


João 17:11 diz, “Pai santo, protege-os em Teu Nome, o Nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um.” (itálico meu). Literal ou metafórico? João 17:21 reforça a metáfora com as palavras, “para que [os crentes] todos sejam um, Pai, como Tu estás em mim e Eu em Ti. Que eles [os crentes] também estejam em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste.”


(itálico meu). Se uma pessoa for fiel à equação, a soma total acrescenta num conjunto muito mais do que três-em-um; uma pessoa, ou terá de pensar maior e de forma mais blasfema, ou terá de reescrever as regras da matemática, se a Trindade for para ser preservada. João 10:30, sendo um versículo muito mal aplicado, no entanto, merece uma análise mais minuciosa. O Cristianismo Trinitário argumenta que Jesus declarou: “Eu e o Pai somos um”, em cujo momento os judeus se prepararam para o apedrejar por blasfémia de acordo com a acusação de que, “sendo tu um simples homem, te fazes passar por Deus.” (João 10:33). O argumento é que os judeus reconheceram a reivindicação de Jesus como sendo Deus, e por isso todos





devem compreender João 10:30 de forma semelhante. Isto pode parecer um argumento razoável, à primeira vista, mas só se a passagem for retirada fora do contexto. Para analisar a passagem de forma adequada, podemos começar com o versículo anterior, João 10:29, que enfatiza as naturezas distintas e separadas de Deus e Jesus – Um o doador, o outro o recetor. Muitos dos que posteriormente leram João 10:30 ficam com a compreensão de que este versículo se refere a Jesus e Deus como estando de acordo, em entendimento, ou em propósito. E notemos a resposta aos judeus de Jesus sobre a acusação de reivindicar divindade. Será que ele se levantou com confiança divina e insistiu, “Ouvis-me bem, eu disse uma vez, e voltarei a dize-lo!”? Exatamente o oposto; ele disse que eles tinham entendido mal, e citou Salmos 82:6 para lembrar aos judeus que as frases “filho de Deus” e “sois deuses” são metáforas. Nas palavras da Bíblia,





Jesus lhes contestou: “Não está escrito na vossa Lei: „Eu (Deus) disse: sois deuses?‟ [Salmos 82:6] Se Ele chamou „deuses‟ àqueles a quem veio a Palavra de Deus, como vós dizeis daquele a quem o Pai santificou e enviou a este mundo: „Tu blasfemas!‟, porque vos declarei: „Eu





Sou o Filho de Deus?‟” (João 10:3436)





Jesus incluiu-se com aqueles “a quem veio a Palavra de Deus [isto é, revelação]”, que foram identificados nos Salmos referenciados 82:6 como “deuses” com um D minúsculo ou “filhos de Deus”. Salmos 82:1 menciona uma metáfora ousada, identificando juízes como “deuses” - não como homens piedosos, não como profetas, não como filhos de Deus, mas como deuses. Além disso, Salmos 82:6-7 não deixa dúvidas de que “filhos de Deus” refere-se a seres humanos mortais: “Eu [Deus] declarei: vós, ó juízes, sois como os deuses; todos vós sois filhos do Altíssimo! No entanto, como seres humanos, morrereis e, como qualquer outro governante, caireis”. E, por último, não esqueçamos que o huios grego, traduzido como “filho” na citação acima, era “usado muito amplamente de parentesco imediato, remoto ou figurativo.”  Assim, lendo João 10:30 em contexto, vemos que Jesus se identificou com os outros mortais piedosos, enfatizou o sentido figurado de “filho de Deus”, negou a divindade, e comportou-se como seria de esperar de um profeta de carne e sangue. Afinal, se Jesus fosse um parceiro na divindade, não teria ele defendido a sua posição com a confiança de omnipotência divina?  Da mesma forma, para cada versículo tido como prova





da Trindade, há um ou mais que desacreditam ou desqualificam. Muito para a frustração do mundo cristão, a confirmação bíblica de Jesus a ensinar a Trindade não é apenas escassa, está ausente. Na verdade, o oposto é o caso. Jesus é registrado três vezes como tendo enfatizado o primeiro mandamento, dizendo, “o Senhor, o nosso Deus é o único Senhor” (Marcos 12:29; Mateus 22:37; e Lucas 10:27). Em nenhum destes três casos ele sequer sugeriu a Trindade. E quem tem mais autoridade bíblica do que Jesus? Analogias vãs desmoronam semelhantemente. O argumento Trinitário de que “Deus é um só, mas Um num ser trino, como um ovoé um, mas uma em três camadas separadas e distintas” é cativante, mas não satisfatório.  (NE) Era uma vez, um mundo que era plano, e no centro do universo. Metais comuns podiam ser transformados em ouro, e uma fonte de juventude prometia imortalidade para aqueles que a conseguissem encontrar. Ou assim acreditavam as pessoas. Mas boas explicações não se tornam realidade. A questão não é se uma analogia válida para o conceito da Trindade existe, mas sim se a doutrina é correta em primeiro lugar. E Jesus ensinou-a? As respostas, de acordo com as informações citadas acima, são “Não” e “Não”. Consequentemente, os defensores da doutrina trinitária têm ficado sem argumentos. Na falta de evidência bíblica,





alguns foram tão longe a ponto de sugerir que Jesus ensinou a Trindade em segredo. Mesmo esta alegação tem uma resposta, pois a Bíblia relata Jesus como tendo dito, “Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei frequentemente nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em segredo.”


 (João 18:20 – itálico meu). Portanto, temos Moisés a ensinar a unicidade de Deus, Jesus a ensinar a unicidade de Deus, mas as autoridades da Igreja a ensinar-nos a acreditar no que elas nos dizem, e não no que lemos na Bíblia com os nossos próprios olhos. Quem devemos acreditar, Jesus ou os teólogos paulinos? E no que devemos confiar, na escritura ou na doutrina? E numa doutrina baseada em fontes não-bíblicas, ainda por cima? Vale a pena notar que o Alcorão Sagrado não só confirma a unicidade de Deus (Allah), mas também refuta a Trindade, estabelecendo assim uma linha monoteísta comum entre os ensinamentos de Moisés, Jesus e do Alcorão Sagrado:





1. “…não digais: „Trindade‟. Abstende-vos de dizê-lo…” (OSA 4:171)





 2. “...são renegadores da Fé os que dizem: „Por certo, Allah é o terceiro de três.‟ E não há deus senão um Deus Único.” (OSA 5:73)





3. “...vosso Deus é Deus Único. Então, quem espera pelo





deparar de seu Senhor, que faça boa ação e não associe ninguém à adoração de seu Senhor.”(OSA 18:110) Ora, estes são ensinamentos do Alcorão Sagrado, mas agrada a imaginação considerar o que Jesus Cristo poderia ter dito de forma diferente, se ele se juntasse a nós numa conversa num café local (nosso deleite, é claro). Nós podemos muito bem imaginá-lo sentado, debruçado sobre um latté descafeinado enquanto morosamente mistura um terceiro pacote de açúcar (ele toma o seu café doce, não tenho qualquer dúvida), balançando lentamente a sua cabeça abaixada enquanto murmura: “Eu disse-lhes que só há um Deus. Eu disse uma, duas, três vezes. O que é que eu poderia fazer mais – esculpi-lo em pedra? Isso não funcionou para Moisés, por que teria funcionado melhor para mim?” É muito mais fácil imaginar Jesus a dizer: “…não digais: „Trindade‟. Abstende-vos de dizê-lo…” ou “...são renegadores da Fé os que dizem: „Por certo, Allah é o terceiro de três.‟ E não há deus senão um Deus Único” do que imaginálo a dizer: “Bem, com certeza, eu disse que havia um só Deus, mas o que eu realmente queria dizer era...” Compreensivelmente, alguns visualizam a clareza do monoteísmo islâmico, uma vez justaposta à rede emaranhada e indefensável da ideologia trinitária, e perguntam-se: “Bem,





qual é o problema do Islam, então?” Outros continuam a oporse, “Mas Jesus é Deus!” Sobre o fundamento de tais pontos de vista opostos estão as linhas desenhadas de diferenças religiosas, guerras travadas, vidas e, mais importante ainda, almas perdidas.



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